30/04/2012

O mito do revisor sabichão

A maioria das pessoas pensa no revisor de texto como alguém que sabe tudo sobre português, um prontuário ortográfico com pernas que tem a gramática na ponta da língua.
É frequente fazerem-me perguntas acerca disto e daquilo e eu hesitar na resposta. No início ficava embaraçada. As pessoas esperam que eu saiba com certeza uma infinidade de coisas. O problema é que a minha função não é saber, é duvidar.

Um revisor define-se pela consciência que tem das suas limitações, não pelo seu volume de conhecimentos. É claro que deve ter uma bagagem essencial, mas, acima de tudo, deve ser capaz de reconhecer o que não sabe e de procurar as respostas. Um revisor duvida constantemente do que pensa que sabe, dos seus olhos, da sonoridade das frases, da coerência das ideias no texto. Põe tudo em causa, a começar por si. Se não tiver uma personalidade sólida, pode mesmo duvidar do seu próprio valor.
 
Como tenho muitas dúvidas, já sei onde devo ir procurar as respostas. Sou boa a encontrá-las e a integrá-las no trabalho em causa. Há um rol de conhecimentos-base que tenho de ter, mas passo o dia a consultar dicionários, enciclopédias, gramáticas, colegas, fóruns e afins. Não pretendo ter todo esse conhecimento armazenado na cabeça (ai de mim!), o que sei é descobri-lo e aplicá-lo da melhor forma.
É claro que ao fim de algum tempo retenho bastantes coisas e já não preciso de ir verificar, mas, ainda assim, quantas vezes não vou ao dicionário confirmar a grafia de palavras banais só para ter meeesmo a certeza...

Resumindo, um bom revisor não é um oráculo omnisciente. Se presumir que tudo sabe, o mais certo é cair na primeira armadilha. Sobretudo, o bom revisor não é um sabichão arrogante que do alto da sua erudição presunçosa aponta a falha alheia com um ar triunfal, é um profissional sensível e sensato, solidário com quem erra, pois sabe o fácil e o difícil que é estar nessa posição.

26/04/2012

Tempo para escrever

Muitas pessoas ainda romantizam a vida de escritor, imaginando que equivale a passar o dia num qualquer café acolhedor, escrevendo romances de uma assentada em pequenos cadernos. Pensam nos escritores como pessoas sem muito que fazer, cuja profissão é apenas contemplar o que está à sua volta e verter a inspiração para o papel. Nada mais longe da verdade.

Se há autores que vivem esta fantasia, são pouquíssimos. A esmagadora maioria tem uma profissão a tempo inteiro, exigências familiares, preocupações e afazeres quotidianos.
Sei de alguns escritores que passeiam pela cidade com desprendimento, mas não nos deixemos enganar pelas aparências. À noite estarão sentados ao computador, a trabalhar nos seus projetos. E quando não deambulam pela cidade ou não estão ao computador, os mais conhecidos andam em conferências, lançamentos, entrevistas e reuniões.

O mito do escritor boémio não corresponde à verdade 95% das vezes. Pode-se ser escritor e boémio, mas é muito difícil ser-se um escritor-boémio. Mesmo os mais desbragados, os que viveram nas margens da sociedade, tiveram de encontrar  disponibilidade e disciplina para pôr as ideias no papel. Isso requer trabalho e dedicação, quase sempre invisíveis para quem está de fora. O público só vê o livro acabado e, portanto, parece que  foi fácil escrevê-lo.

Hoje há muito mais pessoas a escrever do que há umas décadas. Muito mais pessoas que, apesar de levarem uma vida atarefada, procuram reservar algum tempo para a escrita no fim do dia ou ao fim de semana. Não é impossível conciliar as duas coisas, mas não se faz sem esforço. O esforço criativo e o esforço de suspender o quotidiano momentaneamente.

A maioria dos autores em part-time que se comprometem com o seu trabalho de escrita estabelece metas. X horas por dia, Y capítulos por mês, Z tempo para alterações. Podem anotar o prazo e os progressos num papelito ou numa folha de Excel. De uma forma ou outra, encaram o seu livro como um plano a cumprir antes de uma data limite. Depois, é o calendário que os guia, lembrando-lhes que têm de escrever.

Se tem ideias para um livro, seja literatura, poesia ou ensaio, não espere por uma inspiração divina, não queira saltar da página em branco para a festa de lançamento, não adie a escrita para uma altura em que terá mais tempo, porque provavelmente essa altura nunca chegará.
A vida é complicada, o tempo é escasso. A escrita leva tempo. Arranje tempo. Aceite que algumas coisas terão de ficar para trás.
E não pense que encarar a sua escrita desta forma mais objetiva e «menos poética/genial» lhe tira algum mérito. Pelo contrário. É a persistência que distingue um escritor de todas as outras pessoas que apenas pensam em escrever um livro.

25/04/2012

Advérbios de modo ≠ adjetivos

É um erro frequente confundir um advérbio de modo com um adjetivo. O primeiro modifica um verbo ou um adjetivo, o segundo qualifica um substantivo.

O João é afinado. «Afinado» é um adjetivo que qualifica o João.
O João canta afinadamente. «Afinadamente» é um advérbio que se refere ao modo como o João canta.

Não devemos dizer «o João canta afinado». (Em caso de dúvida, o melhor é dizer «de forma afinada».)

Em baixo vemos um exemplo clássico deste erro comum:


O anúncio queria convidar-nos a chegar aos Jogos Olímpicos antes do Usain Bolt. Na realidade, convida-nos a chegarmos aos Jogos Olímpicos a fazer melhores tempos do que ele.

24/04/2012

Como redigir uma boa carta de apresentação

Não basta escrever «em anexo segue o CV», deve aproveitar-se para dizer mais, suscitar curiosidade no recrutador e, sobretudo, iniciar um diálogo.

Um CV é a história de um percurso em tópicos (ver este artigo), mas a narrativa determinante é a carta de apresentação. É nela que o candidato se dá a conhecer realmente — não só a sua experiência, mas também a sua personalidade e os seus conhecimentos.

Não há receitas universais nem fórmulas fixas para cartas de apresentação, e ainda bem, pois devem ser o mais personalizadas possível. Contudo, há algumas dicas genéricas que podem ajudar-vos a escrever um texto mais apurado, que vos traga melhores resultados. Se seguirem estas pistas, estarão no bom caminho:


Obrigatório
— Descrever-se sucintamente. Parece simples, mas há muitas pessoas que se esquecem de o fazer ou que se alongam quando o fazem.
— Mostrar que se está familiarizado com o cargo e a instituição. É indispensável mostrar que sabe a quem se dirige e o que está em causa.
— Explicar porque se quer candidatar ao cargo. Não basta demonstrar interesse, é preciso justificá-lo.
— Dizer porque acredita ser a pessoa indicada para o lugar. É a sua oportunidade de mostrar que é um candidato interessante.
— Referir a disponibilidade para uma entrevista. Aludir à sua disponibilidade é uma forma de convidar o recrutador a entrar em contacto consigo.

Proibido
— Erros ortográficos. Ainda é preciso explicar porque são prejudiciais e evitáveis?
— Carta «chapa 5», igual para todos os casos. Se não tratar o recrutador como alguém único, não espere que ele o trate a si de forma diferente. Perca dez minutos com adaptações e as suas hipóteses de sucesso disparam.
— Repetir tudo o que está no CV. São documentos diferentes, que cumprem funções distintas. Um deve gerar curiosidade pelo outro e acrescentar dados novos.
— Formalidade ou informalidade excessivas. Não convém ser demasiado distante ou «automático», mas ser-se demasiado afável num primeiro contacto também não é bom. Procure um equilíbrio entre a cerimónia e o à-vontade.
— Querer dizer tudo. De preferência, o tempo de antena deve ser limitado a uma página. Refira só o mais importante, aquilo que quer destacar, e deixe o resto para a entrevista.

Recomendável
— Usar um modelo de carta simples, com um tipo de letra sóbrio. A carta deve ter um aspeto profissional, ordenado e limpo.
— Objetividade. Comunique de forma clara e não repita ideias. Evite a lisonja, a gabarolice e a humildade excessiva.
— Seguir as convenções sem cair em lugares-comuns. Os recrutadores esperam que siga a tradição nalguns aspetos, mas não querem ler mais uma carta igual a todas.
— Autenticidade. A autenticidade é fundamental para criar uma ligação com o leitor. Assim, não use linguagem que não domine e não queira parecer o que não é (o esforço nota-se e oculta o seu real valor). A pessoa que escreve a carta deve coincidir com a que vai à entrevista.

Lembre-se
— Refira quaisquer vantagens adicionais. Se tem algumas vantagens que possam ser determinantes para a sua seleção (por exemplo, se é desempregado de longa duração e há benefícios fiscais na sua contratação), não espere pela entrevista para o revelar. Se essa informação não se enquadra no texto, mencione-a numa nota no fim da carta.
— Refira quaisquer condicionamentos. Se tem algum condicionamento grande, este é o local indicado para o referir. Se espera pela entrevista para dizer que em breve terá de se ausentar definitivamente do país, por exemplo, o mais provável é que esteja a desperdiçar o tempo de todos.
— Peça ajuda. Se não está 100% seguro em relação à correção, à coerência e à fluidez do que escreveu, contacte um revisor de texto profissional. O investimento é mínimo e o resultado será um texto polido e com as arestas limadas, que aumentará em muito as suas hipóteses de causar uma boa primeira impressão.


Depois há uma série de questões que são relativas e, na verdade, secundárias. Devo enviar uma carta à parte ou escrevo tudo isto no próprio e-mail? Se envio uma carta anexa ao e-mail, como devo assiná-la? Não havendo regras e não sendo decisivo na imagem que se transmite, isso já pode ficar ao critério de cada um.

Boa sorte!

23/04/2012

Dia Mundial do Livro

Este ano, além de festejarmos o livro, festejamos ainda a revista: a Fundação José Saramago acaba de lançar a Lucerna.

20/04/2012

Leitura recomendada II


Gramática da Fantasia, de Gianni Rodari, editado pela Caminho, é um dos livros mais maravilhosos com que algum dia me cruzei. Com frases como «Se, apesar de tudo, não tivéssemos esperança num mundo melhor, quem nos convenceria a ir ao dentista?», faz da teoria pura diversão. É como se Hegel, os irmãos Grimm, Saussure, um cão com um armário às costas, Freud, o Capuchinho Vermelho, Novalis e a Branca de Neve se juntassem à volta de uma fogueira a conversar sobre como nascem as histórias. 

Li-o há alguns anos e volto sempre a ele com deleite. Recomendo-o vivamente a todos os que gostam de ler, de inventar e de existir, sejam autores de livros para crianças, pais, psicólogos, filósofos, madrastas, príncipes ou sapateiros. (A Feira do Livro está à porta, é aproveitar.)

A tradução, belíssima, é de José Colaço Barreiros, e, pelos vistos, deu trabalho.

18/04/2012

Os artesãos invisíveis

No site Salon.com, Gary Kamyia publicou em 2007 um interessante artigo sobre os editores de texto, cuja leitura recomendo. Apesar de a edição (no sentido de editing) não ser uma prática muito disseminada entre nós, creio que tenderá a impor-se. Fica aqui um excerto:

«We are in an age of volume; editing is about refinement. It’s about getting deeper into a piece, its ideas, its structure, its language. It’s a handmade art, a craft. You don’t learn it overnight. Editing aims at making a piece more like a Stradivarius and less like a microchip. And as the media universe becomes larger and more filled with microchips, we need the violin makers.»

17/04/2012

Pretérito (im)perfeito



Senhores que inserem texto nos rodapés dos telejornais, sabemos que a informação surge em catadupa e que mal há tempo para reler o que se escreve, mas qualquer corretor automático deteta esta falha... A terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo intervir é interveio.

13/04/2012

«Cuidado com os revizores»

Todo escritor convive com um terror permanente: o do erro de revisão. O revisor é a pessoa mais importante na vida de quem escreve. Ele tem poder de vida ou de morte profissional sobre o autor. A inclusão ou omissão de uma letra ou vírgula no que sai impresso pode decidir se o autor vai ser entendido ou não, admirado ou ridicularizado, consagrado ou processado.

Todo texto tem, na verdade, dois autores: quem o escreveu e quem o revisou. Toda vez que manda um texto para ser publicado, o autor se coloca nas mãos do revisor, esperando que seu parceiro não falhe. Não há escritor que empregue palavras como, por exemplo, “ônus” e “carvalho” e depois não fique metaforicamente de malas feitas, pronto para fugir do país se as palavras não saírem impressas como no original, por um lapso do revisor. Ou por sabotagem.

Sim, porque a paranoia autoral não tem limites. Muitos autores acreditam firmemente que existe uma conspiração de revisores contra eles. Quando os revisores não deixam passar erros de composição (hoje em dia, de digitação), fazem pior: não corrigem os erros ortográficos e gramaticais do próprio autor, deixando-o entregue às consequências dos seus próprios pecados de concordância, das suas crases indevidas e pronomes fora do lugar. O que é uma ignomínia. Ou será ignomia? Enfim, não se faz.

Pode-se imaginar o que uma conspiração organizada, internacional, de revisores significaria para nossa civilização. Os revisores só não dominam o mundo porque ainda não se deram conta do poder que têm. Eles desestabilizariam qualquer regime com acentos indevidos e pontuações maliciosas, além de decretos oficiais ininteligíveis. Grandes jornais seriam levados à falência por difamações involuntárias, exércitos inteiros seriam mobilizados por manuais de instrução militar sutilmente alterados, gerações de estudantes seriam desencaminhadas por cartilhas ambíguas e fórmulas de química incompletas. Os efeitos de uma revisão subversiva na instrução médica são terríveis demais para contemplar.

Existe um exemplo histórico do que a revisão desatenta – ou mal-intencionada – pode fazer. Uma das edições da Versão Autorizada da Bíblia publicada na Inglaterra por iniciativa do rei James I, no século XVII, ficou conhecida como a “Bíblia Má”, porque a injunção “Não cometerás adultério” saiu, por um erro de impressão, sem o “não”. Ninguém sabe se o volume de adultérios entre os cristãos de fala inglesa aumentou em decorrência dessa inesperada sanção bíblica até descobrirem o erro, ou se o impressor e o revisor foram atirados numa fogueira juntos, mas o fato prova que nem a palavra de Deus está livre dos revisores. […]

Não posso me queixar dos revisores. Fora a vontade de reuni-los em algum lugar, fechar a porta e dizer “Vamos resolver de uma vez por todas a questão da colocação das vírgulas, mesmo que haja mortos”, acho que me têm tratado bem. Até me protegem. Costumo atirar os pronomes numa frase e deixá-los ficar onde caíram, certo de que o revisor os colocará no lugar adequado. Sempre deixo a crase ao arbítrio deles, que a usem se acharem que devem. E jamais uso a palavra “medra”, para livrá-los da tentação.
 

Luís Fernando Veríssimo

In VIP Exame, março de 1995, p. 36-37. © Luís Fernando Veríssimo

11/04/2012

Guia para escrever melhor do que tem escrito ultimamente

O site Timothy Mcsweeney’s Internet Tendency publica regular e gratuitamente textos geniais sobre diversos assuntos, muitas vezes relativos ao universo da escrita. O último é «The Ultimate Guide to Writing Better Than You Normally Do», de Colin Nissan.

Infelizmente para algumas pessoas, é em inglês. Se ainda assim quiserem espreitar, usem o Google Translate (não adianta de muito, mas o resultado é hilariante, como sempre).

10/04/2012

Bruno Batista

Gostam do grafismo do meu site?

Do logótipo ao HTML, a responsabilidade é do Bruno Batista, um fantástico designer português.
A competência e a simpatia são insuperáveis e recomendo vivamente o seu trabalho.

Para saberem mais, visitem www.additivonline.com.

06/04/2012

Sobre ≠ sob

Sobre significa «por cima de», sob significa «por baixo de». Parece simples, mas as pessoas confundem frequentemente as duas palavras, como mostra esta imagem:


Trabalhamos debaixo de pressão, não em cima dela...


Dica: se precisam de um truque para se lembrarem da diferença, pensem, por exemplo, que um sobreiro está à superfície da terra (em cima de) e que um submarino se desloca debaixo de água (debaixo de).

04/04/2012

Como elaborar um bom CV

Um curriculum vitae é uma ferramenta importantíssima, especialmente em tempos de crise, quando um emprego é ainda mais difícil de agarrar. É o nosso cartão de visita, a história do nosso percurso, espelhando quem somos e onde queremos chegar. Se há texto que é fundamental escrever com competência, é este.

Ao longo dos anos, analisei centenas de currículos de candidatos a várias funções e posso dizer que, para cada currículo memorável pela sua apresentação, havia largas dezenas com lacunas graves.
Eu própria passei horas e horas a aprimorar o meu CV e aconselho toda a gente a fazer o mesmo. Além de ser um exercício de reflexão interessante, ter o currículo afinado permite que o enviemos com confiança em qualquer momento.
Ainda que não esteja à procura de emprego, olhe criticamente para o seu CV e veja o que pode aperfeiçoar.

Um dos serviços que presto (www.comtexto.pt) é a revisão de currículos profissionais, de modo a causarem a melhor impressão possível. Tudo conta, desde a disposição gráfica dos vários elementos àquela vírgula decisiva. Cada caso é tratado à sua maneira, dependendo do próprio CV, mas há dicas mais ou menos universais e são essas que hoje aqui partilho:

 — Se um CV é uma história, não se esqueça do leitor. Trate o destinatário como se fosse único e especial. Ninguém gosta de ler currículos «chapa 5». Adapte o seu modelo conforme o emprego a que se candidata. Pode perder uma hora com alterações (não se esqueça de guardar o ficheiro anterior!), mas é um investimento que aumentará em muito as suas hipóteses de ser bem-sucedido.

— Faça o que fizer, fuja do modelo Europass. A menos que o anúncio o peça (ou se estiver a candidatar-se a um lugar no estrangeiro e desconheça as convenções de recrutamento desse país), evite esse modelo impessoal e inestético.

No formato Europass, as línguas que o candidato domina são classificadas em níveis (C1 e afins). Quem tem tempo para decifrar um CV? Não é mais simples para todos afirmar que se escreve e fala bem a língua?
Mesmo uma página quase em branco é mais apelativa do que aquele impresso das finanças, para além de que, numa pilha, os CV se confundem todos uns com os outros.

— Opte por uma disposição arrumadinha. Se não tem especial sensibilidade para o aspeto gráfico, não vale a pena aventurar-se. Um esquema simples, com um tipo de letra sóbrio e um alinhamento normal estarão muito bem — nada de margens/listas/cores esquisitas, tamanho de letra excessivamente grande ou pequeno. A simplicidade destaca-se no meio da confusão, não se preocupe (antes um CV despojado do que um CV árvore de Natal).

— Divida o CV em secções lógicas. A minha sugestão para o caso genérico é: dados pessoais + perfil (tipo de pessoa e profissional que é) + habilitações literárias + experiência profissional + projetos a curto/médio prazo (formação complementar, tirar o brevet, etc.) + interesses + outra categoria pertinente a nomear por si (tem Linkedin? Um blogue? Fale deles aqui, por exemplo).

— Modere a dose de informação. Não seja tão parco em palavras a ponto de não se perceber o que já fez em cargos anteriores nem tão profuso a ponto de ficarmos a saber a que horas saía e entrava do seu anterior emprego. Se tem pouca experiência, descreva a que tem com mais pormenor, se tem muita, encurte as descrições.

Não há limite de páginas para um CV, mas não use mais do que as estritamente necessárias, pois não quer aborrecer quem lê. Por outro lado, se apresentar tudo numa só página corre o risco parecer pouco empenhado.

Lembre-se de que, com sorte, poderá falar mais de cada um dos pontos numa entrevista.

— Declare guerra aos erros ortográficos. Independentemente da função a que se candidata, os erros saltam à vista e deixam uma marca negativa. É normal que escapem coisas, mas não facilite, porque as pessoas reparam sempre. Use o corretor do Word, peça a um amigo para reler ou, melhor ainda, contrate os serviços de um revisor profissional.

— Dependerá do contexto, mas, a meu ver, devem evitar-se «palavras caras», jargão técnico e estrangeirismos. Apesar das boas intenções, podem fazer com que pareça pretensioso, só dificultam a leitura e nem todo o recrutador está familiarizado com a função em causa, pelo que não adianta ser demasiado técnico. O seu CV não terá mais impacto por isso, pelo contrário.

Porquê dizer que tem «skills ao nível do alemão» se pode dizer que fala e escreve bem alemão e onde aprendeu?

— Se quer demarcar-se dos outros candidatos,  não recorra a expressões típicas de currículos, como informática na ótica do utilizador, pró-atividade, entre outras. Além de datadas, são muito pouco pessoais. O seu CV deve ser objetivo, mas não maquinal. Porque não aproveita para falar realmente de si, em vez de ficar pelos chavões? Se adotar um tom natural (sem abdicar do profissionalismo, claro), pelo menos conquistará  a atenção do recrutador.

— Um CV é uma história que vai contar sobre si e nunca deve mentir (poderá ser fatal, escusado será dizer). Porém, pode e deve conduzir criteriosamente a atenção do destinatário para aquilo que quer evidenciar.
Se tem poucas qualificações, seja criativo: numa secção de «projetos a curto prazo», por exemplo, fale do que pretende fazer, mostre que quer aprender (línguas, etc.), que é uma pessoa interessada.
Se não tem experiência na área para a qual se candidata, mostre como a sua experiência noutras áreas o preparou para este cargo, como essa aprendizagem se cruza com aquilo que esta função exige — viveu no estrangeiro, cuidou de crianças ou fez voluntariado? Procure mostrar o que aprendeu com isso.

De resto, quer comece pelas habilitações ou pela experiência, quer ordene do mais antigo para o mais recente ou vice-versa, o importante é que consiga transmitir a sua voz, sem ruído ou interrupções. Deixe o CV falar por si e não se vai arrepender.

Boa sorte!


Têm mais sugestões? Deixem-nas na caixa de comentários.

PS: Em breve falarei do que escrever e não escrever numa carta de apresentação.

02/04/2012

Como se produz um livro




Já não é exatamente assim (as mudanças nesta área são cada vez mais rápidas), mas eis processo moderno de impressão de livros em série.